terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

PASTORES, PAREM O CONSUMISMO.


Usei o texto do Flávio Gikovate, “O CONSUMISMO DA ELITE É DESESPERO", para pensar no consumismo de nossas elites evangélicas.

"...
 "O consumismo é muito mais fonte de infelicidade do que de felicidade. O prazer trazido é efêmero, uma bolha de sabão – e em seguida vem outro desejo. Ele gera vaidade, inveja, uma série de emoções que estão longe de qualquer tipo de felicidade. E tudo vira comparação".
...
"Em países de Terceiro Mundo – e, intelectualmente, aqui é quase Quarto Mundo –, a elite só piorou nesse tempo. É uma elite medíocre, ignorante, esnobe. Na Europa e nos EUA, o exibicionismo da riqueza é muito menor. Na Europa, as pessoas consomem qualidade, não quantidade. Elas têm uma bolsa cara, mas não mil bolsas, para fazer disputa. Aqui há um comportamento subdesenvolvido e medíocre. E totalmente competitivo. As festas de casamento e de 15 anos são patéticas. A próxima festa tem de ser maior. Isso é sem fim. É sofrimento, é infelicidade. A quantidade e o volume com que as pessoas correm atrás dessas coisas é desespero."
Temos vivido dias realmente difíceis. Há uma exibição disfarçada entre homens e mulheres por mostrar que estão bem.
E mostram isso através de roupas exuberantes, vistosas, caras. Sapatos, bolsas, mil acessórios. Homens com camisa cujo preço de uma sustentaria uma família, mulheres com bolsas que o valor daria para sustentar 3 famílias ou mais".

Para onde estamos indo?
O que buscamos?
Li o artigo do Flávio Gikovate há alguns dias e fiquei pensando no que ele disse sobre o desespero da elite (grande elite!) e na conexão entre boas relações e diminuição no consumismo.
Isso me confirma o que vejo nas ruas, no consultório, nas igrejas, simplesmente observando as pessoas, homens, mulheres, adolescentes e até crianças. Eles estão super conectados em seus aparelhos e com péssimas relações interpessoais. Pessoas sem amigos verdadeiros, mal educadas, atrevidas, altivas, distantes de todos. Pessoas que se sentem perseguidas, sozinhas, sem que percebam que elas mesmas se isolam.
Fazer o que? Como compensar esta dor? Oras, vamos comprar. Comprar dá uma sensação de poder, e dá a falsa impressão de que você está sozinho porque está sentado num lugar muito alto e não porque você é esnobe.

O Apóstolo Paulo tremeria na base se entrasse em alguns lugares "santos" em nossos dias. Quando Paulo escreveu a Timóteo dizendo "Tendo, porém, sustento, e com que nos cobrirmos, estejamos com isso contentes", ele falava a um jovem no ministério. Paulo, vem ver hoje, vem! Vem dar uma olhada em nossas igrejas, vem!
Já não há simplicidade nas igrejas, claro, pense numa pirâmide, eu estou falando da pontinha lá de cima. É um verdadeiro festival de moda, caras, bocas, maquiagem, postura altiva, distanciamento do povo.
Como se o povo contaminasse. E contamina mesmo. Contamina com seus carrapichos, com suas dores, com seus ais. Mas não é para isso mesmo que nós existimos? Para carregarmos as dores uns dos outros?

Lendo Provérbios no final de janeiro, encontrei esta pérola, uma oração feita pelo sábio Agur:
Eu te peço ó Deus, que me dês duas coisas antes de morrer: Não me deixes aparentar aquilo que não sou, e não me deixes ficar nem rico nem pobre. Dá-me somente o sustento que preciso para viver. Porque, se eu tiver mais do que é necessário, poderei dizer que não preciso de ti. E, se eu ficar pobre, poderei roubar e assim envergonharei o teu nome, ó meu Deus. (30:7-9)

É tempo de voltarmos a uma vida simples, sem ostentação. Uma vida em que a maneira como nós falamos, nos vestimos, tratamos as pessoas, olhamos para elas, não as ofenda por causa da altivez que está em nós.
É tempo de visitarmos os que sofrem, chorarmos com os enlutados, fazermos festa a quem deseja tanto alguma coisa e não tem, ao invés de contribuirmos para, tornar-se verdade a frase que diz que dinheiro chama dinheiro. Precisamos sair da casa dos ricos, porque eles sempre nos dão alguma coisa, e visitarmos os pobres, de quem jamais receberemos coisa alguma.
É tempo de fazermos as festinhas dos invisíveis, e não daqueles que podem fazer festas maravilhosas que são citadas nas revistas.
É tempo de pegarmos no colo aquelas ovelhas ardidas, fedidas, feridas, em quem teremos que usar os nossos cremes importados para serem limpas, ao invés de  cuidarmos somente daquelas que nos trarão novos cremes do exterior.
É tempo de darmos lugares de honra àqueles que diante de Deus são exatamente iguais a nós, mas para os homens eles são pequeninos, e não para àqueles que diante dos homens são mais, são grandes, são ricos, são empregadores, são investidores, são presenteadores. É tempo de dar para quem só pode receber.
Tanto um como o outro precisam e merecem nosso cuidado, mas o que tem acontecido é que aquele que muito tem, recebe mais atenção e cuidado. Isso é pecado.

Outra pérola do Gikovate é que “boas relações = menos consumismo”. E eu fiquei pensando que nossa elite evangélica precisa de boas relações para assim conseguir diminuir o gasto fútil e supérfluo, na horizontal e na vertical. Precisamos nos dar bem com os homens (horizontal), a quem servimos, sim, somos servos, e ter um excelente relacionamento na vertical com o Pai, o Deus criador, aquele que preferiu nascer numa casa simples do que em um palácio, aquele que sempre andou a pé e quando usou um jumentinho foi pra anunciar que seu tempo estava chegando. Aquele que usou uma coroa, mas era de espinhos, e que foi cuspido, mal tratado, difamado, chutado e não abriu a sua boca.
Para que tanto? Para compensar o que?

A igreja clama por pastores que saiam das quatro paredes, não das igrejas apenas, mas de seus belos carros, de suas poderosas mansões de seus caros aviões, e ande entre o povo. É tempo.