terça-feira, 28 de dezembro de 2010

É preciso

Brasília,
É preciso conhecer-te para amar-te
É preciso tentar respirar e não conseguir
Tão baixa é a umidade
Conseguir escrever na própria pele
De tão seca que ela está

Conhecer teu céu e teu pôr-do-sol
Tão belo e único
Tão azul e no mesmo instante violeta, vermelho, laranjado
É preciso esperar as noites de setembro para ver
Da terra dura e seca saírem as cigarras
Que enchem as árvores com mil vozes
Que nos enlouquecem com serenatas diurnas e noturnas
Que jamais sairão de nossa memória

É preciso ouvir todos os sotaques ao mesmo tempo
Oxente, virge Maria, uai, sô, bá, tchê, mano, égua!
E respeitar a todos, igualmente
E ter um que é único, da terra,
Como letras e tons misturados no liquidificador
Que no final dão um belo som

É preciso ir numa casa e tomar um tacacá
Na do vizinho, comer uma jabá
Mais adiante tomar um chimarrão
Comer uma pamonha com lingüiça
Ou quem sabe, um café com pão de queijo.
Quem vem te visitar, não te conhece
Quem lê sobre tua vida nos jornais, te julga erradamente

Quem te conhece de verdade, não te esquece...
É preciso conhecer as entranhas desta terra pra te amar
Ter escolhido este lugar viver, para ter filhos, perpetuar a vida.
É preciso ter sido amado por você.
É preciso.

Sandra Botelho - pelos 50 anos, tão sofridos, de Brasília

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