Ilustração Roberto Weigand
A ROUPA NOVA DO REI
(HANS CHRISTIAN ANDERSEN)
“Um homem, conhecendo a vaidade de um rei de determinado país, se fazendo passar por um alfaiate de terras distantes, diz a ele que poderia fazer uma roupa muito bonita e cara, como ninguém teve uma igual antes. O rei, muito vaidoso, gostou da proposta e pediu ao alfaiate que fizesse uma roupa dessas para ele.
Este homem recebeu vários baús cheios de riquezas, rolos de linha de ouro, seda e outros materiais raros e exóticos, exigidos por ele para a confecção das roupas. Ele guardou todos os tesouros e ficou em seu tear, fingindo tecer fios invisíveis. Quando as pessoas iam ver a roupa e nada enxergavam ele dizia que apenas as pessoas mais inteligentes, astutas e de coração puro poderiam vê-la. Então todas as pessoas alegavam ver, para não parecerem estúpidas.
Até que um dia, o rei se cansou de esperar, e ele e seus ministros quiseram ver o progresso do suposto "alfaiate". Quando o falso tecelão mostrou a mesa de trabalho vazia, o rei disse que nada via ali, mas o “alfaiate” deu-lhe a mesma explicação, o que levou o rei a dizer: "Que lindas vestes! Você fez um trabalho magnífico!", embora não visse nada além de uma simples mesa.
Os nobres ao redor soltaram falsos suspiros de admiração pelo trabalho do bandido, nenhum deles querendo que achassem que era incompetente ou incapaz. O bandido garantiu que as roupas logo estariam completas, e o rei resolveu marcar uma grande parada na cidade para que ele exibisse as vestes especiais.
Foi para a rua, com sua “bela” roupa e todos aplaudiram, do ajudante mais próximo até o mais simples servo do reino.
Porém, uma criança que estava entre a multidão, em sua imensa inocência, achou aquilo tudo muito estranho e gritou:
- Coitado!!! Ele está completamente nu! O rei está nu!
O povo, então, enchendo-se de coragem, começou a gritar:
- O rei está nu! O rei está nu!
O rei, ao ouvir esses comentários, ficou furioso por estar representando um papel tão ridículo! O desfile, entretanto, devia prosseguir, de modo que se manteve imperturbável e os camareiros continuaram a segurar-lhe a cauda invisível.
O rei, muito revoltado pela falta de fidelidade de seus súditos, por ter sido exposto a uma situação que já poderia ter sido resolvida anteriormente se ele tivesse sido avisado, volta para seu palácio indignado e dispensa todos os seus infiéis servidores”.
O orgulho e a vaidade cercam-se de bajuladores.
"A bajulação é a moeda falsa que só circula por causa da vaidade humana."
François de La Rochefoucauld
Assim, muitos líderes se apresentam diante do povo, nus!
São homens e mulheres no poder, seja ele no mundo secular o no eclesiástico, que cercam-se de pessoas de quem eles não querem a opinião.
São também cercados por pessoas que deixam estes líderes mostrarem a sua nudez emocional, relacional, comportamental, de caráter, de ética, pois não lhes importa dizer a verdade, com medo dos benefícios que podem perder.
São os ajudantes do naufrágio.
Ninguém quer ouvir, ninguém quer falar. Afinal de contas, se o líder errar, o problema é dele, ele fez sozinho, como quis, arque com as conseqüências.
Mas, quando você está ao redor de um destes poderosos, você tem a obrigação de lhes dizer quando eles estão se expondo demais, quando estão infringindo regras, leis, normas, quando estão usurpando lugares, praticando injustiça, quebrando princípios.
Quando você vê e fica calado você torna-se cúmplice de suas obras infrutíferas.
Muitos não falam por conveniência. Não querem perder seus cargos, títulos, possibilidades no futuro. Não querem perder sua falsa estabilidade, o poder de estar perto de alguém “grande”e “poderoso”.
Gostam da bajulação. Gostam dos tapinhas nas costas.
Falando sério, bajuladores são um asco. Eles se prestam a serem a boca, a voz e algumas vezes, a ação de seus chefes.
Outros não falam porque têm o “rabo preso”. São pessoas amarradas no comprometimento de pecados divididos. Pessoas que não se sentem com autoridade moral para apontar erros ou também porque usufruem e gostam do que recebem.
Isso é um absurdo, pois amarra a vida de todo mundo.
Por incrível que pareça, a baixa auto estima está super vinculada a orgulho, soberba, vaidade. Pessoas com história de vida de abuso emocional, parental, físico, histórias de abandono, palavras depreciativas e coisas similares, tendem, por compensação, a serem adultos do tipo “peito de pombo”. São pessoas rígidas, que rejeitam sinais de fraqueza, que andam com o peito estufado, com uma falsa modéstia, que ignoram e ridicularizam toda tentativa de ajuda.
Veja abaixo algumas características destas pessoas:
* As principais reações e características do tipo predominantemente orgulhoso são:
a) Amor-próprio muito acentuado: contraria-se por pequenos motivos;
b) Reage explosivamente a quaisquer observações ou críticas de outrem em relação ao seu comportamento;
c) Necessita ser o centro de atenções e fazer prevalecer sempre as suas próprias idéias;
d) Não aceita a possibilidade de seus erros, mantendo-se num estado de consciência fechado ao diálogo construtivo;
e) Menospreza as idéias do próximo;
f) Ao ser elogiado por qualquer motivo, enche-se de uma satisfação presunçosa, como que se reafirmado na sua importância à sua posição social e ao prestígio pessoal;
g) Preocupa-se muito com sua aparência exterior, seus gestos são estudados, dá demasiada importância à sua posição social e ao prestígio pessoal;
h) Acha que todos os seus circundantes (familiares e amigos) devem girar em torno de si;
i) Não admite se humilhar diante de ninguém, achando essa atitude um traço de fraqueza e falta de personalidade;
j) Usa de ironia e do deboche para com o próximo nas ocasiões de contendas.
* A vaidade é decorrente do orgulho e dela anda próxima. Destacamos adiante as suas facetas mais comuns:
1) Apresentação pessoal exuberante (no vestir, nos adornos usados, nos gestos afetados, no falar demasiado);
2) Esforço em realçar dotes físicos, culturais ou sociais com notória antipatia provocada aos demais;
3) Intolerância para com aqueles cuja condição intelectual ou social é mais humilde, não evitando referências desairosas.
4) Aspiração a cargos ou posições de destaque que acentuem as referências respeitosas ou elogiosas à sua pessoa;
5) Não reconhecimento de sua própria culpabilidade nas situações de descontentamento diante de infortúnios por que passa;
6) Obstrução mental na capacidade de se autoanalisar, não aceitando suas possíveis falhas ou erros, culpando vagamente a sorte, a infelicidade imerecida, o azar.
* As características do Orgulho e da vaidade foram retiradas do site do recantodasletras.
Tanto o vaidoso quanto o orgulhoso não conseguem ter perto de si pessoas que pensem, que falem a verdade, que possuam opinião formada sobre o que é certo, errado, bom, mau, bonito, feio, agradável, desagradável, permitido, proibido.
O senhores vaidoso e orgulhoso não suportam confronto, avaliação, discordância. Eles querem cordeirinhos. Eles querem os aplausos.
Pessoas de risinho fácil, de paparicação, que os coloquem sobre um altar, gente que concorde com tudo, sem questionar a autoridade destes homens, ou mulheres também, claro.
Capachos. Alguém que faça tudo o que eles mandam. Serviçais.
O orgulhoso e o vaidoso são mestre na bajulação para conseguirem que lhes façam o trabalho que eles não querem fazer, porque eles gostam somente da hora dos holofotes.
A vaidade, o orgulho, a soberba, sobem à cabeça e estas pessoas começam a se expor de tal maneira que são capazes de mostrar-se “nus” diante de uma multidão, achando que estão sendo o máximo.
Elas nao se resguardam, não se questionam, não andam no meio do povo e nao escutam suas vozes, não perguntam com sinceridade como elas estão, o que pensam do que elas estão fazendo, como vai o reino, etc
Até que um dia, um dos pequeninos, alguém a quem pouco se dá valor, o menor da casa, tem a coragem de olhar e dizer: O REI ESTÁ NU.
Se você é rei e acha que está abafando, é bom prestar atenção no que andam falando de você às escondidas.
“O temor do SENHOR consiste em aborrecer o mal; a soberba, a arrogância, o mau caminho e a boca perversa, eu os aborreço”.
Provérbios 8:13