segunda-feira, 7 de maio de 2012

NO DIA DO SILÊNCIO EU QUERO FALAR!

                        Cicatriz na alma -   Tela da Artista Tania Botelho
                                                            
“E aconteceu depois disto que, tendo Absalão, filho de Davi, uma irmã formosa, cujo nome era Tamar, Amnom, filho de Davi, amou-a.
E angustiou-se Amnom, até adoecer, por Tamar, sua irmã, porque era virgem; e parecia aos olhos de Amnom dificultoso fazer-lhe coisa alguma.
Tinha, porém, Amnom um amigo, cujo nome era Jonadabe, filho de Siméia, irmão de Davi; e era Jonadabe homem mui sagaz.
O qual lhe disse: Por que tu de dia em dia tanto emagreces, sendo filho do rei? Não mo farás saber a mim? Então lhe disse Amnom: Amo a Tamar, irmã de Absalão, meu irmão.
E Jonadabe lhe disse: Deita-te na tua cama, e finge-te doente; e, quando teu pai te vier visitar, dize-lhe: Peço-te que minha irmã Tamar venha, e me dê de comer pão, e prepare a comida diante dos meus olhos, para que eu a veja e coma da sua mão.
Deitou-se, pois, Amnom, e fingiu-se doente; e, vindo o rei visitá-lo, disse Amnom, ao rei: Peço-te que minha irmã Tamar venha, e prepare dois bolos diante dos meus olhos, para que eu coma de sua mão.
Mandou então Davi à casa, a Tamar, dizendo: Vai à casa de Amnom, teu irmão, e faze-lhe alguma comida.
E foi Tamar à casa de Amnom, seu irmão (ele porém estava deitado), e tomou massa, e a amassou, e fez bolos diante dos seus olhos, e cozeu os bolos.
E tomou a frigideira, e os tirou diante dele; porém ele recusou comer. E disse Amnom: Fazei retirar a todos da minha presença. E todos se retiraram dele.
Então disse Amnom a Tamar: Traze a comida ao quarto, e comerei da tua mão. E tomou Tamar os bolos que fizera, e levou-os a Amnom, seu irmão, no quarto.
E chegando-lhos, para que comesse, pegou dela, e disse-lhe: Vem, deita-te comigo, minha irmã.
Porém ela lhe disse: Não, meu irmão, não me forces, porque não se faz assim em Israel; não faças tal loucura.
Porque, aonde iria eu com a minha vergonha? E tu serias como um dos loucos de Israel. Agora, pois, peço-te que fales ao rei, porque não me negará a ti.
Porém ele não quis dar ouvidos à sua voz; antes, sendo mais forte do que ela, a forçou, e se deitou com ela.
Depois Amnom sentiu grande aversão por ela, pois maior era o ódio que sentiu por ela do que o amor com que a amara. E disse-lhe Amnom: Levanta-te, e vai-te.
Então ela lhe disse: Não há razão de me despedires assim; maior seria este mal do que o outro que já me tens feito. Porém não lhe quis dar ouvidos.
E chamou a seu moço que o servia, e disse: Ponha fora a esta, e fecha a porta após ela.
E trazia ela uma roupa de muitas cores (porque assim se vestiam as filhas virgens dos reis); e seu servo a pôs para fora, e fechou a porta após ela.
Então Tamar tomou cinza sobre a sua cabeça, e a roupa de muitas cores que trazia rasgou; e pôs as mãos sobre a cabeça, e foi andando e clamando.
E Absalão, seu irmão, lhe disse: Esteve Amnom, teu irmão, contigo? Ora, pois, minha irmã, cala-te; é teu irmão. Não se angustie o teu coração por isto. Assim ficou Tamar, e esteve solitária em casa de Absalão seu irmão.
E, ouvindo o rei Davi todas estas coisas, muito se lhe acendeu a ira.” 

2 Samuel 13:1-21

A história de Tamar serve para representar um número enorme de homens e mulheres que são induzidos a ficarem calados, e não há silêncio pior do que aquele obrigado a alguém que foi injustiçado.
A história que lemos, nos fala de uma mulher, Tamar, que foi abusada fisica e emocionalmente. Sua moral foi ultrajada, seu amor foi jogado no lixo, sua pureza foi emporcalhada por um homem que quis somente saciar seus desejos.
E ela sofre, ela chora, ela fica enlutada.
Mas, a grande dor, é aquela que lhe é imposta por seu irmão vingador, Absalão, que lhe diz para não falar nada.
Imediatamente, nada é feito. Seu pai, o rei Davi, nada fez e por dois anos inteiros, nada aconteceu, até que seu irmão Absalão, vinga o abuso que ela sofreu, matando Amnom, o que traz uma série de consequências na história do rei Davi.

Nos dias de hoje, há muitas pessoas que vivem em silêncio. São pessoas há quem não é concedido o direito de falar. Elas estão longe dos poderosos, vivem nas periferias das cidades, ou na zona rural. Outras, até têm acesso aos meios legais, mas lhes falta conhecimento de seus direitos. Há também aqueles que, apesar de conhecerem seus direitos, são obrigados a permanecerem em silêncio sob o risco de perderem seus empregos, ou casamentos, ou ainda uma situação que lhes garante a sobrevivência ou o amor.
Homens e mulheres que ficam em silêncio por medo das consequências.

Mas, pior do que isto, é o silêncio daquele quem tem voz.
Fico indignada com a omissão daqueles que detêm o poder e que têm em suas mãos os meios de mudar situações. Mas não fazem nada, não dizem nada diante das injustiças, dos abusos, diante do grito de estômagos vazios, de hospitais sem vaga, de opressão, de ganho desigual, de distribuição de renda vergonhosa, da falta de ensino, do medo que vivemos, até mesmo dentro de casa. Silêncio diante das guerras, dos escândalos, das propinas, do abuso de poder.
Tudo isso me deixa indignada.
E tudo isso dói, mas não pode nos calar.
Ao ver uma injustiça, fale.
Ao ser confrontado por uma ilegalidade, denuncie.
Ao ser vítima, grite. Você tem uma voz.
Use sua voz, use os meios legais, use as redes sociais, denuncie, faça valer sua força, sua voz, seu voto. Informe-se. Não fique calado. Cobre medidas, cobre mudanças e além de tudo, no que depender de você, seja a mudança que você deseja.

“Grite alto, não se contenha! Levante a voz como trombeta. Anuncie ao meu povo a rebelião dele, e à comunidade de Jacó, os seus pecados”
Isaías 58:1




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