Final de ano, tempo sobrando, entre outras coisas, vamos ouvir boa música? E lá vem Chico Buarque.
Ouvir Chico Buarque é absolutamente inspirador. Estava aqui ouvindo “Gota d'água” e fiquei a pensar sobre a música.
“Já lhe dei meu corpo
Minha alegria
Já estanquei meu sangue
Quando fervia
Olha a voz que me resta
Olha a veia que salta
Olha a gota que falta
Pro desfecho da festa
Por favor...
Deixe em paz meu coração
Que ele é um pote até aqui de mágoa
E qualquer desatenção, faça não
Pode ser a gota d'água...”
Mas que absurdo, amigo Chico, você deveria ter parado de encher esse copo há muito tempo.
Mas o pior, é que exatamente como o Chico, tem muitas pessoas que estão enchendo seu copo de mágoa diariamente.
Você dá o seu corpo, sua alegria, esfria quando deveria ferver, e é magoado porque deixa.
Já parou pra pensar que este ser que te aflige não merece o teu amor?
Muitas vezes somos cúmplices, e juramos que somos vítimas.
Fazemos pactos com o desrespeito, com o abuso em quase todas as suas formas ao nosso corpo, à nossa forma material, ao nosso estilo de vida.
Negociamos por medo da solidão e acabamos tendo como companhia a maldade.
Deixamos que nossa alegria seja roubada. Fazemos programas que não queremos, vamos a lugares que não gostamos, rimos de piadas sem graça e inconvenientes, nos submetemos a não ouvirmos nossas músicas preferidas, lermos nossos livros queridos, andarmos com pessoas legais, vivermos sem alegria, por alguém que é um roubador de sonhos.
Controlamos nossos sentimentos. Não podemos beijar, abraçar, cheirar, gritar, chorar, reclamar, pedir, mudar. Estancamos o sangue quando ele ferve, porque o sangue do outro ferve mais e machuca.
Até que nos vemos sem voz...
Faltando um tantinho assim pra o copo transbordar.
E não adianta vir com esse papo de Chico:
“Deixe em paz meu coração
Que ele é um pote até aqui de mágoa
E qualquer desatenção, faça não
Pode ser a gota d'água...”
Você já deveria ter parado essa história há muito tempo.
Nada de deixe em paz meu coração, quando você diz isso, você continua colocando na mão do outro o poder de decidir sobre a sua vida, sobre a sua felicidade, sobre viver bem ou viver mal.
Você tem que decidir ficar longe, afastar de si quem tem faz tão mal, quem te humilha, quem zomba de você, quem te faz sofrer.
Ou você vai esperar mais uma desatenção pra ser a gota d’água?
Você faz suas escolhas, suas escolhas determinam sua vida.
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